...o Curso de Doula espera-me. :o)))
Ficam aqui duas notícias fresquinhas!
Um casal empenhado em humanizar o nascimento - D.N. 21/5/2006
À sétima gravidez, Ana Cristina Torres fez uma cesariana. Não gostou da experiência e gostou ainda menos de ouvir os médicos dizer que nunca mais voltaria a ter um parto pélvico. "Porquê? Ficámos com muitas dúvidas e começámos a fazer pesquisas." A Internet é um mundo de perguntas e respostas e depressa Ana Cristina e o marido Américo estavam em contacto com as "Amigas do Parto", do Brasil, com as espanholas que gritam "El Parto es Nuestro", com as holandesas que há muito conquistaram o direito ao parto humanizado, com as inglesas que começam a ver as reivindicações atendidas. "E nós?" "Começámos a perceber que deveríamos questionar muitos dos procedimentos que nos habituámos a ter como necessários, como rotina num parto. Serão mesmo os melhores?", pergunta Américo. Procedimentos: uma bata, uma tricotomia (rapagem dos pelos públicos), um clister, uma cama em posição horizontal, pernas colocadas nos estribos, luzes fortes sobre a cara, monitorização electrónica (CTG), ruptura precoce das membranas, introdução de oxitocina sintética (para acelerar o processo), epidural (analgésico), episiotomia (corte do períneo), eventualmente uma cesariana. Procedimentos que se repetem, quase sempre sem perguntar a opinião à pessoa mais interessada. Sem sequer lhe dar uma explicação. E mais, diz Cristina: "Todo o ambiente hospitalar é prejudicial ao parto. É um lugar estranho e, como tal, sentimo-nos inibidas. Aumenta o stress, logo, aumenta a adrenalina e diminui a oxitocina." E depois há todo o lado do tratamento dado às grávidas e acompanhantes, a maneira como se fala, aquilo que é dito.Nos últimos anos, Ana Cristina e Américo deram forma à Associação Portuguesa para a Humanização do Parto (Humpar), oficializada desde Fevereiro e já com 113 sócios. "É preciso mudar as mentalidades", diz ele. "Neste momento, o mais importante é informar as pessoas." "Pensei muito nas minhas filhas e nas minhas noras", diz ela. "Iria sentir-me culpada se, sabendo a verdade, não fizesse nada." A Humpar não defende o parto em casa a qualquer preço, mas defende o parto humanizado e seguro. E foi por isso que, depois de um oitavo parto ainda num hospital (embora já com outra preparação), à nona gravidez, com 40 anos e sem nenhum medo, Cristina quis dar à luz em casa. Foi em Julho do ano passado. O sol do fim da tarde entrava pela janela da cozinha e batia ligeiramente no sofá onde ela se atarefava em respirar e relaxar. "É maravilhoso", conta, embevecida. "Em casa, o nascimento é uma festa, estamos rodeadas pelas pessoas de quem mais gostamos, temos as nossas coisas à mão." Vinte minutos depois do nascimento de Joseph Benjamin, estava rodeada por todos os filhos, tomou um duche na sua banheira, deitou-se na sua cama e dormiu com o seu bebé a noite inteira. MJC
Uma maternidade dentro da própria casa - D.N. 21/5/2006
Foi tudo muito rápido. À uma da manhã as contracções já eram intensas, a seguir chegou a parteira, Irene Franco deambulou pelo quarto, pôs-se de gatas, deitou--se de lado, até que, finalmente, encostada ao seu incansável marido, "colada a ele" e na cama onde dormem abraçados todas as noites, Irene fez força, toda a força, até nascer a pequena Lara. Não aconteceu nos anos 60. Foi há apenas três anos e cinco meses. Irene optou por dar à luz em casa. E não é a única. Em pleno século XXI, são entre 400 e 700 as mulheres portuguesas que, todos os anos, preferem não ter um parto hospitalar. Não aceitam o modo como se nasce hoje em dia nos hospitais, recusam-se a ser mais uma "doente" quando estão apenas grávidas, exigem que o parto volte a ser encarado como um acto fisiológico - que é - e não como um acto médico - que só deveria ser em casos excepcionais. Como diz Irene: "Sempre me pareceu que os partos hospitalares têm imensas complicações e que recorrem a um sem-número de proce- dimentos que contrariam a nossa habilidade natural para ter filhos." "Tem havido cada vez mais uma 'medicalização' do parto, com processos agressivos e que desvirtuam tudo o que é a fisiologia e a beleza do nascimento", confirma António Ferreira, 42 anos, enfermeiro-obstetra em hospitais há 12 anos e que há quatro começou também a realizar partos domiciliários. "Existe um excesso de intervencionismo no parto, que provoca aquilo a que chamamos o efeito cascata [procedimentos que levam a outros procedimentos], com consequências terríveis para a mãe e para o bebé." Segurança em primeiro lugar
Num momento em que se discute o encerramento de maternidades por motivos de segurança, falar de parto domiciliário parece um absurdo a Luís Graça, presidente do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos. "É um disparate", dispara. "A única maneira de ter filhos em segurança é em ambiente hospitalar e em hospitais devidamente equipados. Há sempre uns originais e até pode haver uma moda, mas vai passar. São fantasias."
A Irene bastaram poucas pesquisas para ficar convencida do contrário: "Quem critica o parto domiciliário costuma referir os números da mortalidade infantil e as complicações que existiam antigamente. Mas não estamos a comparar realidades idênticas", diz. "As pessoas viviam longe dos hospitais, os acessos eram maus, as mulheres não faziam uma alimentação correcta, não eram seguidas pelos médicos, não faziam qualquer preparação. Hoje falamos de mulheres informadas e de partos domiciliários preparados."
Mariana Tomás Fernandes, 51 anos, enfermeira-parteira há 30 anos, confirma: "As mulheres que optam por ter os filhos em casa são geralmente pessoas muito informadas, que querem participar na íntegra neste momento e querem que o seu filho também participe." "A segurança está sempre em primeiro lugar", acrescenta António Ferreira. Até hoje, nenhum deles teve problemas, mas ambos sublinham a importância de ter sempre "um plano B" e de saber quanto tempo se demora até ao hospital mais próximo. "Está provado que, com uma gravidez normal e um parto sem complicações, é tão ou mais seguro ter um filho em casa do que no hospital", explica Américo Torres, da Humpar.
Experiências traumáticas
Luísa Condeço despertou para este problema depois de um parto complicado, de uma cesariana e de um pós-parto com muita depressão. "Não só os partos podem deixar sequelas físicas e psicológicas nas mulheres como hoje sabemos que o modo como nascemos influencia a nossa vida, aquilo que somos e até algumas das doenças que vamos ter." Hoje, Luísa, uma das Doulas de Portugal, fala com ternura de todas as grávidas que ajudou a não passarem pelo que ela passou. "Muitas das mulheres que me procuram tiveram experiências traumáticas nos hospitais que não querem repetir", confirma Mariana Tomás Fernandes.
"Uma experiência de parto pacífica, tranquila e feliz tem benefícios para a mãe e para o filho", garante Luísa Condeço. Do outro lado, António Ferreira refere "o prazer de ver os rostos das famílias que recebem o bebé no seu ambiente, devidamente preparado."
Durante a gravidez, Irene fez hidroginástica e ioga para a ajudar no relaxamento e frequentou um curso de preparação, embora reconheça hoje que "tudo aquilo que precisamos saber está dentro de nós. É inato. Actualmente podemos estar um pouco desconectadas dessa realidade mas está tudo lá", diz numa voz serena. Nunca sentiu medo. "Estava muito confiante. Acredito que criamos a nossa própria realidade. Desejei proporcionar à minha filha um parto o mais natural possível. São pequenos momentos mas são determinantes nas nossas vidas."