Este é um post escrito no rescaldo (dia 10), razão porque será publicado com essa data. Foi escrito primeiro em papel, para que quando conseguisse deslocar-me à net o transcrevesse. Mas tinha de o escrever naquele momento! Pensei que me íam chamar lamechas, mas logo me lembrei que o Blog era meu e fazia nele/dele o que quisesse e escrevi. A necessidade era muita!
Afinal tinha razões para não me sentir bem, pelo contrário!
Como já estava praticamente a fazer uma semana da ida ao Resort-da-pulseira-laranja, as saudades apertaram e decidi lá ir visitar o pessoal. A verdade é que decidiram por mim (após novas ecos com a Dr.ª Paula) e eu, claro, concordei, tal a zombie em que me tinham transformado as dores, a falta de apetite, o já desespero.
As ecos tinham dado o rim direito novamente muito dilatado e o esquerdo a caminho do mesmo. Ureter? Dilatado, obrigado! Cálculos? Nickles batatóides.
Ligação telefónica imediata para as urgências "Quem é o urologista de serviço?", pergunta ela, seguindo à frente a abrir alas para passarmos. Faz o apanhado destes 7 dias e atira um diagnóstico ao ar.
Como eu não tenho cão, comecei a ser tomada pelo MEDO (ou seria PAVOR?).
"Talvez a transfiram para Coimbra."; "Olhe que isto é grave. Se lhe param os dois rins é complicado!".
Imaginei o pior, mas continuei sem hesitar.
Utilizo o humor para não chorar, quando me dão para assinar uma credencial, responsabilizando-me por possíveis efeitos secundários do exame a que me vão submeter.
"Não é este exame em que algumas pessoas ficam?", pergunto baixinho, sabendo de antemão a resposta, tendo uma esperança recôndita de ouvir um "não". Acima de tudo, analiso agora que, inconscientemente, tentava que também eles tivessem medo e desistissem de o fazer...
"Nunca vi ninguém morrer. Já vieram muitos com paragem cardíaca aqui para a reanimação, mas nunca soube de nenhum que morresse.", diz o urologista de serviço. "Ah! Muito mais descansada agora", retorqui. "Desde que também me consigam reanimar..."
O MEDO passou mesmo a PAVOR, quase paniquei.
Ao chegar à Imagiologia, vejo o Companheiro de Jornada e a Mummy. Sorrio, um sorriso bem rasgado, 101% forçado: "Só tive de assinar um papel em como me reponsabilizo se quinar... Mas já volto." Nem olho para trás, ao virar a esquina, pois as lágrimas já corriam.
Enquanto esvazio a bexiga, dou por mim a enviar 4 ou 5 sms com o conteúdo "Reza por mim"... e eles rezaram! Rezaram, enviaram energia, entraram em sintonia. O que menos importa é o nome que se lhe dá. Sei que estiveram comigo e eu pedi à Fonte de Energia Universal (Reiki) e a Deus que me protegesse. Dou por mim a serenar um pouco, a pensar que, se partir, faço-o em Paz. Só não queria que ninguém ficasse a sofrer e apetece-me vir cá fora dar esse recado, mas já estou na máquina.
Terá sido meia hora? Para mim foi como que um "Pause" na minha Vida. Pensei, senti e rezei/"conectei-me"!
Do lado de fora, pelo vidro, vejo oito batas brancas.
O líquido começa a percorrer-me, o meu corpo estranha e reaje. "Ok, é só calor!", acalmei-me. Mas o coração prega um susto, pois também ele reaje. "A-oh, é agora! E eu a ver isto tudo. Será que vai parar? Será que me vou sentir a morrer?"
Entra uma médica, trocamos impressões e fica o conselho de respirar fundo e devagar, pois é normal. Centro-me numa das luzes da máquina e lembro a respiração dos tempos do Yôga. Mentalmente, fico ao lado da Elisabeth e respiramos juntas. Que saudades! Tenho mesmo de voltar ao Yôga!
"Mas... e se o coração me prega outra partida?", "Nada acontece por acaso. Se tiver que partir? Vou serena." concluo e volto a dar o meu melhor a nível de respiração: inspiração 3 tempos, expiração 6!
Quando é dado por terminado, sinto que passei uma provação grande, mas acima de tudo que cresci mais um pouco e me reaproximei do meu lado espiritual.
Dou por mim a pensar nos amigos a quem tinha enviado o sms, na Mãe e no Maridão, no primo que me disse há dias estar a fazer um percurso que me parece fascinante na UB (União Budista). A todos agradeço. A Deus, a Buda, a N.ª Sr.ª de Fátima, à Energia Universal, ao Cosmos! A mim? Se calhar também, porque não? Também faço parte dele!
Ponho os pés na terra e agradeço à Equipa. Foram impecáveis, inclusivé a nível humano. Obrigada!
Tudo o que se seguiu pareceu brincadeira de criança: eu estava Viva! I felt like a survivor!!
Não, não há cálculo algum. As infecções urinárias de repetição já deixaram algumas mazelas no rim e esta última, porque mascarada inicialmente, subiu aos rins: primeiro o direito, depois o esquerdo. Pielonefrite! Sai mais um injectável na hora e outros para tomar depois.
Chego a casa cansada. Ao recordar os momentos do Urotac, faço o paralelo com os filmes americanos em que o condenado à morte por injecção letal fica numa situação idêntica: sozinho, assistência e médicos do outro lado do vidro e ouve-se um "click", que é quando o líquido começa a correr. Tenho plena consciência que no meu olhar se lia facilmente "Não me deixem morrer, por favor!"
Desta ainda não fui!